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O Livro da Terceira Série

Quando se é criança, os limites são impostos pela nossa imaginação.

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Author H · Tags ensaios reflexão vida memória

Quando se é criança e cresce em meio a livros - mesmo sem ser um leitor ávido até então - existe aquela voz em algum lugar do seu cérebro sussurando: Você pode escrever o seu próprio livro! Porque não?

Crianças têm isso: aquele senso de que tudo é possível e passível de ser feito. Ímpeto que, infelizmente, vai se dissolvendo quando crescemos.


Isso aconteceu em algum momento de 1994 - o ano em que o Brasil ganhou a Copa do Mundo de futebol. Eu estava na terceira série e tinha um amigo, o Denis. Fazíamos tudo juntos. Naquele ano, nossa missão foi fazer um livro de estórias: o Livro 3º B, nomeado em homenagem à nossa turma da terceira série B do ensino fundamental.

Tínhamos 9 anos. Não me recordo se o Denis lia naquela época, mas lembro que eu já tinha a minha primeira carteirinha da bibilioteca da escola havi 3 anos!

Não sei se a ideia foi minha ou dele. Mas era um livro - uma coisa importante, não um mero trabalho escolar. Nossa primeira iniciativa foi criar a capa.


Naquela tarde, depois da concepçao da ideia, vasculhei as caixas em casa em busca de uma folha de cartolina. Depois de algum tempo, encontrei um pedaço em branco. Aquilo se tornaria a "capa dura" do livro.

Sabe como é... livro é coisa importante. Logo, merecia uma capa à altura.

Apesar de não ter uma boa caligrafia (e ainda não tenho), escrevi em letras garrafais: Livro 3º B. Mostrei ao Denis no dia seguinte e ele gostou. Na verdade, não lembro muito da colaboração dele, mas tenho certeza de que ajudou bastante.

Essa é outra vantagem de quando se é criança: não existe aquela competitividade que os adultos cultivam. Claro, claro que toda criança quer ser a melhor da sala - mas é diferente. Talvez é por isso eu não tenha grandes memórias da participação dele: a ideia de "quem fez mais" simplesmente não importava.


Pronto! Tínhamos a capa. Agora faltavam as histórias.

Comecei a escrever. Lembro de ter escrito três ou quatro histórias. Comentei com minha irmã sobre o livro e perguntei se ela não queria escrever uma também. No fim, ela falou, e eu escrevi por ela. O livro fechou em cinco histórias.

As folhas escritas à mão - esqueça computadores, em 1994 eu nem sabia o que era um computador - foram organizadas em sequência e cuidadosamente grampeadas dentro da capa de cartolina.

Demorou alguns dias até que aquele "calhamaço" de menos de dez folhas estivesse finalizado, com sua capa dura e tudo.


Quanto a públicação, investimos pesado.

O Livro 3º B, única edição, capa dura, ficou em cima da nossa carteira - como em uma biblioteca - disponível para os ávidos leitores da sala.

Carteira da escola dos anos 90

Infelizmente, não lembro se alguém leu. Também não me recordo das historias que escrevi. Mas foram dias de trabalho árduo que culminaram naquela pequena obra de arte.

Falo obra de arte no sentido literal, sem ironia. Foi uma conquista totalmente altruísta, sem querer receber nada em troca. O único objetivo era fazer o livro - e ele estava alí, descansando sobre a carteira.


Pouco me lembro sobre o que aconteceu depois. Acho que alguns colegas leram, mas não sei se comentaram. Também não sei se a professora Maria Isabel chegou a ver.

Mas nada disso importava.

Quando se é criança e você faz algo tão grandioso quanto escrever um livro, a opinião dos outros é só um detalhe. Você simplesmente faz - porque você quer fazer.


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